segunda-feira, 10 de maio de 2010

Chopin no Centro de Estudos do ECE RJ

Luiz Paulo Sampaio, musicólogo e ex-diretor do Teatro Municipal, fala sobre Chopin e sua influência na música brasileira, na reunião do Centro de Estudos do Espaço Criança Esperança Rio de Janeiro , por ocasião do bicentenário do genial compositor polonês. Bicentenário que é celebrado no festival de Chopin, do Rio Folle Journée, que será realizado no Rio de Janeiro de 2 a 6 de junho de 2010.


Assista o vídeo e leia o texto abaixo, produzido por Luiz Sampaio:


Frederic Chopin: um símbolo do Romantismo musical

Entre os últimos anos do século XVIII e os primeiros do século XIX surgiu uma geração de jovens artistas e pensadores que revolucionaram as artes inaugurando um movimento que ficou conhecido na História com o nome de Romantismo. Começando pela literatura e depois se expandindo para a música e para as artes plásticas, esse movimento mudou os padrões estéticos ao dar mais importância à expressão dos sentimentos do que à razão, buscando no mistério, na melancolia, no amor e no fantástico a inspiração para suas obras.
No campo da música o Romantismo trouxe novas formas musicais além de revolucionar instrumentos como o violino e, sobretudo, o piano. Os anos de 1810 e 1811 marcaram o nascimento de 3 dos maiores compositores para piano de todos os tempos : Frederic Chopin e Robert Schumann, em 1810 e Franz Liszt em 1811. De fato, cada um destes gênios contribuiu intensamente para revolucionar a técnica pianística e aumentar em grande escala o repertório do instrumento, além de torna-lo imensamente popular através de peças como polonaises, mazurkas, valsas, noturnos e baladas. Os três estão certamente entre os mais célebres compositores românticos, mas Chopin acabou se transformando em verdadeiro símbolo do artista romântico e sua obra para piano é considerada até hoje como a mais completa e a mais perfeita criada para este instrumento.
Nascido em uma pequena cidade perto de Varsóvia, Chopin logo mostrou seu incrível talento e, aos 7 anos já era considerado como um novo Mozart, compondo algumas obras e dando recitais em Varsóvia. Com 16 anos de idade entrou para o Conservatório onde se formou em 1829 iniciando uma carreira de concertista que o levou à Alemanha e à Áustria recebendo verdadeira consagração do publico. Em 1830, uma revolução na Polônia faz com que Chopin permanecesse em Viena, onde foram publicadas as primeiras mazurkas e os 12 estudos op 10, obras que revolucionaram a técnica pianística mostrando novas possibilidades do instrumento.
No ano seguinte (1831) muda-se para Paris onde se estabelece como um famoso professor de piano, o que lhe garante a sobrevivência na capital francesa, na época o mais importante centro cultural europeu. Em 1832 dá seu concerto inaugural em Paris tocando o seu primeiro concerto para piano e orquestra e torna-se amigo de personagens importantes do mundo musical como Liszt e Berlioz.
No ano seguinte, consagrado como celebridade em toda a Europa, tem suas obras publicadas na França, Inglaterra e Alemanha, compondo nos anos seguintes obras famosas como os Scherzos e as Baladas, além da segunda série de Estudos op 25. Aos 29 anos inicia uma relação amorosa com a escritora George Sand e começa e sentir os primeiros sintomas da tuberculose, o que não interrompe suas composição de obras marcantes como os prelúdios op 28 e a grande sonata da Marcha Fúnebre (op 35).
Os últimos anos de sua vida foram marcados pela amizade com o grande pintor romântico francês Eugène Delacroix e pelo rompimento com George Sand. O agravamento de sua doença levou à sua morte em Paris em outubro de 1849 aos 39 anos de idade.
Chopin deixou-nos uma obra grandiosa em que a beleza e a elegância das melodias, envoltas em um clima de apaixonada emoção, é realçada pela complexa e original harmonia que explora magnificamente todo o potencial sonoro do piano. Ao ouvir esta música pela primeira vez, Robert Schumann, seu contemporâneo e, ele também um maravilhoso compositor, deixou registrado em um artigo todo o seu encanto com a famosa frase: “Tirem o chapéu senhores: surgiu um novo gênio!!”

A geração romântica brasileira

As primeiras obras de compositores brasileiros, sob influência da estética do romantismo, surgiram somente anos após a morte de Chopin. Podemos considerar Carlos Gomes, nascido em 1836, como o primeiro compositor desta geração. Sua ópera mais famosa, “O Guarani”, estreou no Teatro alla Scala de Milão em 1870 tornando-o uma celebridade internacional. Antes, porém, em sua juventude na década de 1850, ele compôs varias pequenas peças para piano, como valsas e modinhas, já em estilo romântico. Entretanto, foi na segunda metade do século XIX que surgiram diversos compositores, nitidamente inspirados na estética romântica e nacionalista, que nos legaram inúmeras peças típicas da época como, prelúdios, noturnos, baladas, valsas, estudos e mazurkas, mostrando clara influência de Chopin. Entre eles destacam-se Leopoldo Miguez (1850-1902), Henrique Oswald (1852-1931), Alberto Nepomuceno (1864- 1920), Alexandre Levy (1864-1892) e, sobretudo, Ernesto Nazareth (1863-1934), grande pianista e genial compositor que tomou Chopin como seu principal modelo em suas polcas, tangos brasileiros, valsas, noturnos e, até mesmo, uma polonaise.
A relação de amor entre a música de Chopin e o coração musical do Brasil ultrapassou esta geração de músicos e adentrou o século XX, permanecendo viva até nossos dias. Basta lembrar que nosso maior gênio musical, Heitor Villa-Lobos, escreveu, por encomenda da UNESCO, em 1949, centenário de morte do compositor, uma Homenagem a Chopin para piano solo constando de Noturno seguido por Balada. Grandes pianistas brasileiros como Guiomar Novaes, Nelson Freire e Artur Moreira Lima são destacados intérpretes da música de Chopin reforçando esta particular estima do compositor entre nós.

Luiz Paulo Sampaio

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